segunda-feira, 17 de setembro de 2012

Um Presente Inesquecível

Não tinha para onde ir. Era uma noite como outra qualquer. Sem amigos, sem família, sem dinheiro.
Jamie pegou a garrafa de vodka que juntava pó em cima da geladeira. Não gostava de destilados, mas era o que tinha para aquela noite quente e vazia.

Não quis ficar no computador. Saiu de casa com a garrafa na mão e sentou-se na calçada. Encostado ao poste, foi entornando o líquido que desceu queimando nos primeiros goles, mas depois de alguns instantes lhe pareceu até suave.
Lembrou-se de Viviane. Não que tivesse sentido por ela algo além de atração, mas Viviane fora, sem dúvida, a mulher com quem conseguira se livrar da timidez.  Depois dos shows, ela sempre o recebia sorridente nos camarins. Sorrisos que não eram oferecidos para os outros integrantes da banda, somente para ele.
Agora, sentado ali com a sua vodka e com os seus sessenta e oito anos, a nostalgia o envolve de maneira perturbadora. Perturbadora porque não se lembra em que momento exatamente a perdera.
Nas noites quentes como aquela, costumava levar Viviane para os melhores motéis e comê-la tanto quanto fosse possível. Ela fora a mulher mais safada que tivera na vida. E o que resta agora? Bem, além da garrafa de vodka, somente um órgão inútil no meio das pernas. Se ele ainda funcionasse, ia pegar uma dessas moças que ficam rebolando sem calcinha num desses bailes que se espalharam feito praga na cidade.
Uma vez tentou investir. Mesmo carregando um defunto entre as pernas, ficaria satisfeito com um pouco de putaria. Mas a guria, na ocasião, o esbofeteou. Não sabe mais como as coisas funcionam nesta época. Concluiu que essas moças de hoje não são como as de antigamente. Vestem-se como putas, mas dizem que não são. As daquele tempo se vestiam com decência, mas eram verdadeiras putas quando lhes convinha.
Jamie sabia que Viviane dava para todos da banda, mas não os sorrisos. Esses ele tinha só para ele. E como gostaria de ter um agora!
Tomou mais um gole. A vodka estava definitivamente fazendo efeito, entorpecendo seus sentidos, pois, poderia jurar ter ouvido a voz de Viviane perto de si. Ao prestar mais atenção, notou uma moça muito bonita ao seu lado.
– Senhor Jamie – ela disse – o senhor está bem?
– Ah, oi Sabrina – ele a reconheceu. – Estou bem sim. Só apreciando a noite, obrigado.
Sabrina é a vizinha. Deve ter uns vinte e cinco anos no máximo. Não é o tipo de moça que se veste feito puta. Usava uma camiseta roxa e larga e uma bermuda, que apesar de colada na pele, não havia nada de indecente.
– O que acha de dividir comigo essa garrafa, senhor Jamie?
Jamie arregalou os olhos, incrédulo.
– Não deveria beber isso – ele disse sério.
– E o senhor deveria? Por que bebe? – foi se sentando ao lado do velho Jamie.
– Quer saber mesmo? – ele se rendeu. – Pra me ajudar a voltar ao passado. Gosto de me lembrar das coisas, sabe. Da época em que eu tinha uma banda de rock, de quando meus amigos estavam vivos...
– O senhor tinha uma banda?
– Tinha sim. Mas hoje ninguém mais dá valor à boa música, não é mesmo? Só ouvem lixo.
– Ah eu não concordo. O rock jamais vai morrer. Apesar de todo esse lixo, que chamam de música, ainda existem pessoas de bom gosto.
– Vai dizer que você não curte o tal do funk, axé e afins?
– Deus me livre! Meus ouvidos são sensíveis demais pra isso!
Jamie começou a achar a conversa interessante. Mas o que ela queria afinal? Ah, sim, a vodka. Estendeu a garrafa para ela, esperando que depois do gole ela se retirasse. Mas Sabrina bebeu, devolveu a garrafa e continuou falando:
– E que parte do passado exatamente o senhor estava se lembrando antes de eu chegar?
– Eu pensava em Viviane, que, aliás, era bem parecida com você a não ser pelo cabelo. Viviane tinha os cabelos castanhos e cacheados.
– Não gosta de lisos? – ela riu passando as mãos nos fios longos.
Ele olhou-a novamente, dessa vez com mais atenção aos seus dotes físicos. Passou a garrafa para ela e estava realmente apreciando o rumo que a conversa tomava. Não pôde deixar de sorrir.
– Eu não posso mais te dar o que você procura.
– E por que não? – passou a língua entre os lábios, fazendo cara de safada.
Jamie suspirou pesaroso. Não encontrou palavras no momento, apenas baixou o olhar e abanou a cabeça negativamente.
– E se eu disser que posso lhe dar o que procura, senhor Jamie? – Sabrina enfiou a mão dentro da bermuda e retirou um frasco pequeno, mostrando ao velho.
– O que é isso? – ele quis saber.
– O seu passado – estendeu o frasco a ele.
Jamie pegou o objeto e o analisou com um breve sorriso de decepção.
– Beba – ela disse.
– O que é isso, exatamente?
– O seu passado, já disse. Beba se quiser saber o que acontece depois. Podemos ter uma noite inesquecível, senhor Jamie.
– Há! Há! É algum tipo de Viagra?
– Digamos que sim – correu as mãos pelos seios fazendo cara de puta.
Jamie não pensou duas vezes. Retirou a tampinha e engoliu o líquido com gosto de soro.
Sabrina o olhava incrédula enquanto a pele enrugada ganhava toda a juventude de outrora. Os cabelos grisalhos do velho Jamie tornaram-se negros acentuando o azul das íris sem aquelas bolsas embaixo dos olhos.
Jamie não percebeu a transformação até que Sabrina o chamasse a atenção para as suas mãos. O velho não entendeu a princípio por que as manchas da pele desapareceram e as mãos estavam lisas e desenrugadas iguais as que tivera aos vinte anos.
– Me convida para entrar agora, senhor Jamie? – Sabrina exibia um sorriso deslumbrante.
– O que aconteceu com as minhas mãos?
– Não são só as suas mãos. É um homem muito atraente, de fato.
Jamie se levantou abruptamente. As roupas estavam largas, ergueu a camisa e examinou a barriga chapada. Não sabia o que ela tinha feito, mas precisava olhar-se no espelho imediatamente. Entrou apressado em sua casa e Sabrina foi atrás.
Ele estava tão jovem quanto ela. Levou as mãos ao rosto diante do espelho. Esquadrinhou com os dedos a pele daquele jovem que reconhecia como um dia tendo sido ele. Seu deslumbre era tanto que demorou a perceber o reflexo de Sabrina, logo atrás de si, fazendo caras e bocas de cadela no cio.
– Eu trouxe a vodka – ergueu a garrafa – e tranquei a porta – sorriu maliciosa.
– Mas como você fez... O que aconte... – as palavras foram caladas com um beijo ardente.
Sabrina começou a se esfregar em Jamie, arrancando-lhe a roupa com voracidade. Foi beijando o pescoço, com os dedos embrenhados nos cabelos negros e abastados do jovem em que Jamie se tornara.
Jamie estava doido de tesão. Arrancou a blusa de Sabrina e meteu a boca nos bicos rosados dos seios perfeitos e depois foi empurrando a cabeça dela para baixo até sentir a boca quente envolver seu pau.
Ela chupou, chupou, até ser impedida de continuar pelas mãos que lhe puxaram os cabelos, trazendo novamente a sua boca até os lábios trêmulos, de onde escapavam gemidos de prazer.
Jamie a pegou no colo e foi até seu quarto. Depositou a moça em sua cama e mais que depressa tirou a bermuda que ela usava. Viu o corpo exposto, as pernas já abertas exibindo a vagina depilada e molhada de tesão. Ele mergulhou por entre as coxas grossas e sentiu o gosto do seu sexo, quente, ardente, enquanto ela gemia e balbuciava palavras incompreensíveis.
A penetração a fez gemer ainda mais. Uma vadia, puta,  gostosa!
– Vira, vagabunda! – ele mandou.
Aquela visão de Sabrina de quatro o enlouqueceu. Eles treparam, treparam e gozaram muitas vezes até serem vencidos pela exaustão e adormecerem.
Jamie dormia quando fora acordado por um safanão seguido de uma voz familiar:
– Tá atrasado, filho da puta, acorda!
Abriu os olhos e mal acreditou ao ver a cara de Rob, com olhos nervosos a fitá-lo.
– O show é em uma hora, caralho! – Rob berrou. – Fica enchendo a cara e comendo essas vacas e se esquece do que realmente importa!
Jamie gargalhou. Levantou-se, mesmo nu, e foi abraçar o amigo que não via desde a sua... morte?
– Sai pra lá com esse pau duro perto de mim, porra! Vai logo se arrumar, filho da puta! – Rob saiu nervoso.
Jamie não encontrou Sabrina. Quem sabe, quando tiver sessenta e oito anos e decidir tomar vodka na calçada, ela apareça novamente. Mas o caminho é longo até lá. Tem muito o que viver e um show para realizar dentro de uma hora.


Nenhum comentário:

Postar um comentário